segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sem medo da avaliação



Essa é uma história sobre dois professores. O professor "A" e professor "B". O professor "A" e o professor "B" se conhecem pouco mas estão sempre se falando pelos corredores. Tanto um quanto o outro nutrem bons pensamentos em relação ao outro. " O professor "A" é um cara bacana" - pensa consigo o professor "B". "O professor "B" me parece um cara bastante intusiasmado com seu trabalho" - pensa o professor A. Porém, neste clima de paz, algo acontece. Toda vez que o professor "A" entra em sala de aula percebe que a turma é contagiada por uma espécie de aura de alegria, enquanto a simples menção do nome ou do fato de terminar o tempo de aula e por conseguinte aproximar-se o momento do encontro com o professor "B" geram um desconforto enorme na turma, bem diferente da alegria inicial. Como pesquisador o professor "A" fica intrigado com aquela questão. O que poderia levar seus alunos, pessoas que ele conhece aprendeu a conhecer ao longo do semestre a estados tão diferentes de ânimo diante da simples menção dos nomes dos dos professores "A" e "B"? Seria o dominio do conteúdo? Creio que não. O professor "B" é um homem experiente, "doutorando", conhece os clássicos de sua área e sua matéria é especificamente muito interessante. Então o que seria? Como chegar a uma resposta satisfatória sem entrar em uma questão ética? A saída encontrada pelo professor "A" é uma das mais desconfortáveis para o professor muitas vezes: simplesmente, depois de estabeler um clima amigável com a turma estabelecer um diálogo sobre a forma como o professor tem atuado. Por que essa é uma prática que gera desconforto em nós professores? Porque muitas vezes não estamos preparados para a crítica daqueles que consideramos inferiores intelectualmente a nós. Embora tenhamos modificado nosso discurso ao longo das últimas décadas, nossas práticas continuam muitas vezes alicerçadas em práticas tradicionais que pregam a superioridade do professor em relação ao aluno. Bom, ao perguntar para a turma sobre como estes percebem a forma como ele trabalha os diversos conteúdos abordados, o professor "A", consegue perceber em parte os diversos elementos que fazem a turma oscilar entre a alegria e a tristeza em questão de segundos a menor menção do nome destes dois professores. Alguns dos elementos citados pelos alunos em relação ao trabalho do professor "A":
" O professor "A" fala na "nossa" linguagem"
" O professor "A" se preocupa com os alunos que não estão compreendendo a matéria"
" O professor "A" sempre tem uma palavra motivadora para a turma"
" O professor "A" sabe fazer a gente rir enquanto aprende sobre os temas"
" O professor "A" sabe aproximar o tema da nossa realidade"
Então comecei a refletir sobre a importância de perdemos o medo ou a nossa arrogância em relação esse outro que se encontra dividindo o mesmo espaço que o nosso que chamamos aluno. Muitas vezes acreditamos que estamos "arrasando" na aula, quando a única coisa que fazemos e desestimular nossos alunos. Porque uso a palavra "desestimular" aqui? Porque a cada encontro o aluno sai com a sensação de que ele é um "burro" ou que a tal materia do professor "B" é realmente muito complicada a ponto dele precisar de anos e anos para começar a compreender. Essa prática nos leva a tentar compreender como criar um ambiente agradável onde o aluno possa sentir-se a vontade para expor não apenas suas opiniões, mas também criticar o professor. E isso é um grande exercício de humildade.

Um comentário:

Feitosa Gonçalves disse...

Concordo plenamente que deve mos perder o medo dessas avaliações! Se não estamos abertos às críticas, como podemos pretender "educar" alguém?